Nem que o fumo branco levasse mais dias que as vinte e quatro horas para invadir os céus de Vaticano, Miques Bonfim, o advogado das vítimas da “inventona” de 25 de novembro, se libertaria das masmorras do poder militar, presidencial, executivo e judicial de São Tomé e Príncipe, porque no coração do novo homem são-tomense, no lugar de amor ao próximo, carrega algo estranho, de matar, sem dó, nem piedade.
O assalto policial de agentes contra um cidadão, na sua residência familiar, sem o mandato judicial competente, – não fazia falta, iam fortemente armados – seguido de todas as humilhações públicas, (engaiolamento e retiradas constantes, e algemado, de um cubículo escuro, sem cadeira, sem bancos, sem qualquer assento, no tribunal e, com o pernoitar de duas noites nas instalações da Polícia para voltar ao juízo, chegado a ser também algemado num poste e mais atentados à dignidade humana e, sobretudo, aos desígnios profissionais de direito) que não tardarão, como de rotina, a serem desmentidas pelas hostes, e iniciadas no mesmo dia, em que os olhos cristãos, bem longínquos das santas ilhas, ansiavam pelo fumo de conclave espiritual que daria a conhecer o novo Papa, substituto de Francisco, argentino, falecido há duas semanas, e que calhou ao americano-peruano, Leão XIV, o que é isto, num Estado que se preze democrático e de respeito às Convenções Internacionais de Direitos Humanos?
A presença nas ilhas, talvez inesperada pelos justiceiros, do advogado Carlos Semedo, quem, ontem, explicou da prisão preventiva do agora constituinte, o seu colega de direito, vítima de aberração jurídica da juíza de instrução preparatória, apesar de demonstração da defesa de que a prova do Ministério Público, não sustenta os crimes imputados ao advogado, claro, inútil para os fundamentos da prisão, a agenda criminosa deve ser cumprida e imediata. Quem a próxima vítima?
As ilhas na escuridão completa de consciências do poder, desde os onze dias, após a posse do XVIII governo constitucional, pese o sinal de luz de pouca dura, em janeiro passado, e agora, com a prisão preventiva, que perdurará por meses, para ganhar tempo, seguindo a lógica assassina, na altura contra o Lucas, o único sobrevivente do hediondo crime militar, é a sirene de inconstitucionalidades e mais que evidente da consumação, em breve, dos anseios de ADI, em limpar a face nebulosa de 25 de novembro de 2022, enviando a prisão ou a psiquiatria, o chato advogado.
Os juízes, não de direito, cidadãos iletrados, nomeados pelo anterior governo, em pleno século XXI, como que, o mais veemente insulto à doutrina e sabedoria judicial dos “doutores” engravatados da praça, o poder estimulasse a apagar a democracia, para não dizerem do direito, mas com o caricato, a colaboração vergonhosa da Ordem de Advogados de Hérman Costa, muda e surda, perante a molestação pública do seu membro, vergonhosamente, retirado a carteira profissional e suspendido de funções, gozam de missão política de apenas, o cumprimento judicial da agenda da “inventona” sanguinária do XVIII Governo constitucional.
Nem as últimas declarações do advogado Miques Bonfim, diretas ao Procurador-Geral da República que, há anos, esconde as várias queixas criminais contra o antigo patrão, uma vez mais, ao telecomando no estrangeiro, guiando as decisões da república, lhes sujeitam à prisão, sem que para tal, os procedimentos criminais sejam arrojados, em sede própria, dando sempre ao denunciante o poder de defesa no gozo da liberdade e das garantias constitucionais. São Tomé e Príncipe, não merece ser a selva sazonal dos políticos e seus subservientes!
Prender para depois investigar, é o absurdo de matar e só depois operar o paciente, seja o extrato social do cidadão. A detenção do advogado Miques Bonfim, (dois pesos e duas medidas, em teste público para com o julgamento, a sentença e depois, a prisão de Ailton Dias ou a auto jubilação de Silva Cravid, – especiais abraços aos meus amigos, respetivos, da Trindade e da carteira -, por idênticas “acusações sociais”) a partir de denúncia de violação sexual de uma criança, de 11 anos e de contexto familiar, hoje, com quinze anos de idade, com todos os direitos que assistem à adolescente, mas que, ao meio da detenção, se mistura tudo, agora com crime cibernético, talvez tardiamente, para justificar a apreensão de computador e pen-drives, na ausência da dona de casa, inclusive uma advogada e consequentemente, a esposa do advogado, espelha que presunção de inocência?
Não só consubstancia no crime de invasão à privacidade, uma vez mais, como cumpre, na realidade, a agenda bem delineada de apagar todas as provas da investigação pessoal do advogado e inocentar as chefias militares com as mãos sujas de sangue de quatro civis assassinados, Arlécio, Armando, Into e Izac, naquela sangrenta madrugada de execução sumária, em que Delfim Neves, no corredor de morte e Arzemiro dos Prazeres “Bano”, antigos presidentes parlamentares, por míngua, saíram com a vida.
Não consigo, confesso, apesar de retorno dos são-tomenses, eufóricos à liberdade, entender os festejos e fogos de artifícios da nação, lançados ao ar e continuados por meses, após o anúncio presidencial de 6 de Janeiro, dia histórico, que demitiu o chefe do anterior governo e consecutiva nomeação e posse da nova equipa governamental, liderada por um antigo prisioneiro político, – presenteado por esta razão de quatrocentos mil euros públicos, subtraídos da pobreza do povo, através do seu antecessor – dizia, Américo Ramos, um aliado do presidente da república, no veneno gravado na garganta para lançar, na primeira oportunidade, contra a “tróika” governativa de 2018/2022, ou quem, lhes atravessar ou ameaçar o caminho do poder.
O presidente Carlos Vila Nova, foi quem naquele dia fatídico, 25 de novembro de 2022, informou o chefe do Estado-Maior, o Brigadeiro Olinto Paquete que, depois de ter o controlo da situação, deixou os civis vivos, em segurança e confiança, aos seus subordinados e, se preparava, após a reunião de esclarecimento com o 1º ministro, para um encontro tripartido, ao mais alto nível.
Na presidência da república, o governo liderado pelo então chefe máximo e o Estado Maior das Forças Armadas, representado pelos dois chefes, na presença também do ministro da Defesa, Jorge Amado, iriam acalmar o presidente da república que teve, infelizmente, de contentar-se com as declarações matinais do 1º ministro (nojentas de falsidades), à comunicação social, momentos antes das redes sociais, iniciarem a publicação da prisão, tortura e chacina dos civis na parada militar.
Mais de quarenta e oito horas depois e através do Conselho de Defesa Nacional, com as cadeiras representativas da oposição, vazias, por birra e determinação do 1º ministro eleito e atestada durante os dois longos anos tenebrosos de ADI-PUN, o Comandante Supremo das Forças Armadas, ouviu de tudo e concluiu nos microfones públicos de que, os civis, simplesmente, não foram a busca de rebuçados no quartel castrense e pelo tal, foram presos e mortos com a extrema grosseria de sangue, no Estado de Direito e, mais tarde, sepultados às escondidas pelos militares, que com prontidão e honra, segundo o chefe do Estado, defenderam a pátria, as instituições e os representantes, eleitos democraticamente.
Daí, por que explicação convincente, o Comandante Supremo das Forças Armadas, quem assinou por baixo, a “inventona” militar e sanguinária do XVIII Governo, esteve ausente do banquete comemorativo, da prisão de Miques Bonfim, realizado pelo condecorado, o Capitão do Mar e da Guerra, absurda, Armindo Rodrigues? O então Chefe adjunto do Estado-Maior, acusado pelo Ministério Público, pelos bárbaros crimes de chacina, apurados na investigação criminal, referentes ao dia 25 de novembro e, ao contrário do pedido de despromoção e prisão, tal e qual os outros, foram promovidos pelo anterior governante. Aqui tem “bichô” ou não?
Na sequência da notícia da TVS, ontem, sexta-feira, com a imediata audiência internacional – contrária ao silenciamento da prisão de um advogado, figura pública, a abater – o chefe militar da armada, elegantemente fardado para a circunstância cerimonial, sala recheada e abençoada pelo primeiro-ministro, Américo Ramos, ministro da Defesa, Horácio Sousa, Procurador-Geral da República, Kelve Nobre de Carvalho, Chefe do Estado-Maior, João Pedro Cravid, pelos juízes analfabetos do tribunal militar, repiso, juízes analfabetos tribunal militar ilegal e pelas missões militares estrangeiras que, no faz de encontro de exercício militar Obangame, de olhares visíveis e cabisbaixos de ceticismo diplomático, beberam o champanhe de sangue dos quatro civis assassinados, há mais de dois anos, no dia 25 de novembro.
Foi da tribuna pública, em que o homem na defesa de honra, óbvio, inocente até julgamento e sentença, em sede judicial, – o direito constitucional que foi retirado ao advogado das vítimas da “inventona” – que Armindo Rodrigues, triunfante, pediu a máxima urgência do julgamento, transparente, severo e leu a sentença judicial, dando diretrizes explícitas aos juízes analfabetos, seus subalternos, agora, protegidos pelo ministro da Defesa, Horácio Sousa e pela ministra da Justiça, Vera Cravid, personalidades que muito nutriam a simpatia pessoal, mas desde o balanço dos 100 dias de governo, por bom nome e dignidade a preservar, já deveriam abandonar o XIX Governo constitucional. Os nomes dos dois, agora, sujos com a prisão de Miques Bonfim, já lá estão gravados no quadro da república.
Com a agenda simétrica e o fumo branco, ao 3º dia de calvário do advogado Miques Bonfim, devidamente elaborados e de cumprimento, sem perder tempo, na gíria popular diz-se, «com o ferro quente, aproveitemos encerrar este capítulo de 25 de novembro e as mãos militares sujas de sangue!» ou seja, «o homem que perturbava a nossa agenda limpinha, já está preso. Frente é que é, o caminho!»
O MLSTP e o BASTA, na oposição parlamentar, já pronunciaram no pedido de esclarecimento, justiça e a não caça às bruxas, mas eu esperava muito mais. Encontro com o presidente da república, a urgente explicação do Procurador-geral da república, no parlamento e audiência com as Nações Unidas e demais representantes diplomáticos no país para denunciarem mais um atentado contra a democracia.
Nestes dias pavorosos à minha consciência são-tomense, angustiada, assisto nas redes sociais, não somente a democracia do meu país, a abrir champanhes de comemoração da prisão do advogado dos vulneráveis, o defensor daqueles que não têm voz, com festejos da consumada prisão preventiva do mais corajoso advogado das causas das vítimas de 25 de novembro, quem solitário, no chão da terra, lutava com caneta e papel contra as arbitrariedades dos poderes presidenciais, executivos, militares e judiciais e, prometia apresentar todas as provas, os atores morais e materiais da mais sangrenta página da história independente de São Tomé e Príncipe, na altura do julgamento das mãos militares sujas de sangue humano. E agora?
Toda essa cabala, até prova em contrário, segundo a defesa, Carlos Semedo e Pedro Sequeira, não existe qualquer perigo de fuga, prejuízo de provas e nem alarme social que possam justificar a prisão preventiva, incorreta, injusta e desnecessária de um cidadão, inocentado pelos factos relatados na denúncia que não foram confirmados pelas testemunhas ouvidas. O que interessa ao partido ADI, através de manobra judicial, é matar o que resta das provas da “inventona” de 25 de novembro, investigadas pelo advogado Miques Bonfim.
Fui abrir o refúgio à alma inconformada, num livro que deveria fazer parte dos conhecimentos académicos dos são-tomenses, porque o desconhecimento intelectual da mão esquerda ou direita, não autoriza ninguém a desprezar a História (ajuda a evitar, a repetição de erros) para melhor projetar o rumo do país, nem passar-se de vítima, na condição de santo, para condenar o pecador Miques Bonfim, inimigo, apenas porque na busca da verdade à nação, ter mexido com o salvador e os apóstolos de fato e gravata. Na página 249 de Sum Marky, CRÓNICA DE UMA GUERRA INVENTADA, retive do advogado das vítimas de uma montagem sanguinária colonial, o Massacre de Cinquenta e Três, o seguinte testemunho:
«Parece que a ideia não lhe agradava. “O senhor Doutor não gosta de mim?”, perguntara, desolada.
O dr. Carlos rira, bem disposto: “Gosto, sim! Mas tu és uma menina pequena e eu quero falar com gente crescida.”
– Mas eu tenho 18 anos! Já sou muito crescida…
– Eu sei tudo! – afirmara, em tom brincalhão. E perguntara: – Olha, não foi o senhor tenente que deu o dinheiro para comprar as roupas?»
Para o bom entendedor, o sapato não aperta a dor, mas são oportunas palavras de encorajamento e afetivo abraço de solidariedade, nesta altura difícil e dirigidas ao Meritíssimo Advogado, Dr. Miques Bonfim.
São Tomé e Príncipe precisa de si com vida, coragem e determinante, a persistir os desígnios da defesa dos desfavorecidos e até, não muito menos, o punho cerrado ao seu ídolo, Ibrahim TRAORÉ, o jovem militar, a escapar vários atentados ocidentais, presidente de Burkina Faso que, ao contrário das chefias militares acusadas dos crimes sanguinários de 25 de novembro de 2022, isto é, o assassinato dos filhos da terra, tenta resgatar a África do domínio colonial e imperial, seculares.
Desista da greve de fome, porque os seus órgãos internos, não devem parar de funcionar ou adquirir lesões irreversíveis para que os seus detratores, festivos, abram mais champanhes sobre o seu caixão!
Por amor à sua filha, esposa, mãe e aos familiares, Miques de Jesus Bonfim, desista da greve de fome!
José Maria Cardoso
10.05.2025